O GRANDE CAMPEÃO

O GRANDE CAMPEÃO

Os primeiros registros do início da prática do boxe no Brasil são de 1913. De lá para cá, muitos pugilistas fizeram história nos ringues nacionais e internacionais. Mas nenhum se iguala a Eder Jofre, campeão mundial dos galos (apontado pelos críticos com o maior da história da categoria) e dos penas. Hoje, a maior entre as suas 78 apresentações como profissional completa 50 anos. A vitória sobre o mexicano Joe Medel, por nocaute, no décimo assalto, no Olympic Auditorium, em Los Angeles. "Já se passou uma vida, hein? Mas para mim é como se fosse ontem", diz o Galo de Ouro, sem esconder a satisfação.

O duelo valeu como eliminatória para o título mundial dos pesos galos (até 53,524 kg), que pertencia ao também mexicano Joe Becerra. Mais de três mil espectadores, maioria de mexicanos e descendentes, proporcionaram uma arrecadação de US$ 9.450,00 naquela quinta-feira à noite. O combate, que começou às 21 horas (1h da madrugada de Brasília) foi transmitido para o Brasil pela Rádio Record, com transmissão do lendário narrador Pedro Luiz. O filme da luta só foi exibido na TV e nos cinemas do Brasil uma semana depois.

Favorito na proporção de 2 por 1, Eder, aos 24 anos, estava invicto em 35 lutas, 32 vitórias (22 nocautes), três empates e ocupava o primeiro lugar no ranking. O cartel de Medel, oitavo do mundo e apenas 22 anos, não era de assustar: 43 vitórias, 16 derrotas e três empates. Mas tinha muita experiência, por ter lutado contra ex-campeões, além de fazer parte da vitoriosa escola mexicana. Sua variedade de golpes era impressionante.

Eder teve problemas para atingir o peso limite da categoria. Uma semana antes do compromisso o brasileiro estava com 55,6 kg. Naquela época, a pesagem era feita no dia da luta. Na primeira tentativa, pela manhã, Eder ficou 300 gramas acima e precisou se exercitar até as 15 horas para acusar do peso correto. Um desgaste a mais de energia.

A previsão era de 12 rounds (as lutas por título tinham até 15 assaltos), mas desde o início foi possível perceber que um dos dois iria beijar a lona, tal o ritmo alucinante na troca de golpes. "Foi um toma lá dá cá incrível", afirma entusiasmado Eder. "Fiquei muito tonto no nono assalto. Ele (Medel) me pegou forte várias vezes. Só não caí porque meu pai (Aristides Kid Jofre, seu técnico) me disse (no intervalo): "Sua mãe está torcendo por você, o Brasil está torcendo por você. Vai que ele sentiu o teu último golpe. Ele está pior que você. Só falta um golpe." Eu olhei e o cara já estava de pé, enquanto eu ainda estava sentado", diverte-se.

Newton Campos, presidente da Federação Paulista de Boxe, relembra que a missão de Eder Jofre não foi fácil. "Só ele para reverter aquele quadro. Ferido, cansado, castigado. Foi uma atuação fantástica. Inesquecível." Depois de ser atingido várias vezes no nono assalto, Eder foi reequilibrar o duelo no segundo final, ao acertar um cruzado de esquerda fulminante. A vitória espetacular veio no décimo assalto, com um fortíssimo direto de direita, que explodiu no queixo de Medel. Pronto: o Galo de Ouro fazia jus aos 600 mil cruzeiros de bolsa (cerca de US$ 3 mil), que serviram para comprar algumas coisas, incluindo um terreno, que Eder tem até hoje.

Eder se tornaria o primeiro brasileiro campeão mundial exatos três meses depois, diante de Eloy Sanchez, outro mexicano, mais uma vez em Los Angeles. Desta vez, foi uma vitória tranquila, também por nocaute, no 6.º round. Mas era apenas mera formalidade. O mundo já conhecia o Galo de Ouro.

SAUDADE

EDER JOFRE

Ex-campeão dos galos e penas "Já se passou uma vida, hein? Mas para mim é como se tivesse acontecido ontem"

OS MELHORES MOMENTOS

5º round

Eder e Medel trocam golpes os três minutos e sentem a força do rival. O público fica de pé e aplaude.

9º round

Medel acerta forte golpe e persegue Eder. O brasileiro pega forte gancho e quase derruba Medel.

10º round

Os dois estão castigados. Eder acerta direto de direita e encerra a disputa.

FONTE: ESTADÃO