sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bastidores de um pugilista brasileiro



Fonte: Boxing Magazine
Autor: Michel Alvarenga

Bastidores de um pugilista brasileiro
(Por Michel Alvarenga)


Cresci querendo ser um grande campeão. Pensei que as coisas seriam como na época de Éder Jofre. Ele foi meu ídolo. Um dia entrei dentro de um ginásio e dentro dele, vi muitos sacos e aparelhos que eu não sabia muito bem como usar. Foi quando um homem que estava ajudando um jovem perguntou:
- O que quer?- então eu respondi:
- Quero ser um boxeador, tal qual Éder Jofre. - podia ver o espanto em seus olhos e quando pensei em interrogá-lo porque do espanto, ouvi:
- Hei filho, vá pra casa e para escola. No país atual que vivemos, o boxe serve apenas para passar tempo.
- Mais eu queria...
- Sente-se aqui. Vou lhe explicar o porquê. E se mesmo depois de tudo que eu lhe disser, você ainda quiser ser um boxeador, então lhe treinarei de graça, sem qualquer custo, o que eu acho improvavel que aconteça, após o que eu vou lhe falar.
Sentei e apenas ouvi o que aquele homem me falava. Ele dizia:
- Não basta ter apenas, a vontade, o desejo, a gana; não aqui no Brasil. Tem que ter talento, e compreender que em nosso país você não será bem visto, não será respeitado pela maioria das mídias existentes, suas lutas não passarão nos canais aberto; quando muito, serão transmitidas através de canais de TV à cabo; suas bolsas serão baixas, faltarão pessoas que acreditem que você será um grande campeão. Não haverá patrocinadores, investidores; por consequência disso, você terá que dividir seu tempo entre: escola, trabalho e treinos. E, se não bastasse tudo isso, esteja pronto para a maior frustração da sua vida... na melhor das hipóteses você chegará à um título de campeonato, de torneios realizados pelas entidades nacionais; não que não tenha nenhum valor, mas não dá tanta visibilidade no cenário internacional, onde penso, que é a sua meta chegar. Agora, caso queira suportar e passar por tudo isso, tenho que dizer que esteja preparado, pois você será um campeão mundial.

Foi então que inevitavelmente perguntei:
- Porque serei um campeão caso vença tudo isso?
- Porque não existe nada pior, do que você lutar em nome da sua pátria e não ser reconhecido por ela. Caso você consiga vencer tudo o que eu lhe falei, o título será apenas um mero detalhe.

Moral da história:

Será que vale a pena enfrentar tantas dificuldades, falta de investimento entre outros, apenas pelo fato de se crer que é possível, contrariar a lógica da vida por acreditar em algo que existe dentro de você?
Será que vale a pena tanto esforço, para se morrer na praia?

Escrevi sobre isso, pois acho que devemos parar para refletir sobre o assunto. Acho que quando se crer em um sonho, ou em si próprio, vale a pena arriscar; vale a pena correr o risco. Mesmo sabendo que pode não dar certo... mesmo entendendo que podemos ser apenas mais um número, em um estatística ou em um censo realizado, para saber quantos boxeadores brasileiros tentaram um futuro no que gostavam de fazer e não deram certo.

Quando sabemos que nascemos para algo, esse algo começa a se revelar dentro de nós, a partir do momento que começamos a entender qual é o propósito da nossa vida. Quanto à isso, o que tenho a dizer a todos os pugilistas é:

Batalhem, lutem, nadem contra a correnteza, reme contra a maré. Treine forte, não dê moleza a seus adversários, principalmente quando eles não estão dentro dos ringues, mas fora.
Para quem entende um pingo é uma letra!
Não permita que as dificuldades desmotivem você de acreditar no seu potencial, no entanto, não deixe jamais de ser realista, e acredite em você.

Uma homenagem a todos os pugilistas anônimos e que deram seu sangue nos ringues sem serem reconhecidos por sua pátria.

Dê sua opinião!

Boxing Magazine - O Magazine do Boxe
Michel Alvarenga

Um comentário:

  1. Sócrates de Almeida1 de outubro de 2010 às 21:32

    Bela homenagem aos nossos abnegados pugilistas, que, aqui em São Paulo, se esforçam para vencer na terça-feira, no ringue do Baby Barione e voltam para suas casas de ônibus e no dia seguinte estão, de manhã, no trabalho com seus olhos roxos e seus ossos doendo. Tudo isso por nenhuma razão financeira.
    Valeu

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