Há 100 anos, boxe festejava 1º campeão negro; família quer perdão de Obama
Das agências internacionais
Em Reno (EUA)
Neste dia 4 de julho, completa-se exatamente um século de uma das lutas mais famosas da história do boxe. Chamado justamente de “O combate do século”, o duelo entre o negro Jack Johnson e o branco Jim Jeffries, em Reno (EUA) marcou época não só pela habilidade de seus pugilistas, mas pela vitória do primeiro ter um componente social muito forte, ligado à questão do racismo na época.
COMBATE HISTÓRICO
Johnson foi obrigado a sair do país por conta das acusações, causadas principalmente pela vitória, transformada em questão racial de brancos e negros Johnson foi o primeiro negro campeão dos pesos pesados na história, dois anos antes. A comoção em torno da luta é tanta, no que foi uma verdadeira questão racial, que um aspecto em relação a ela ainda está em aberto.
Em 2009, foi pedido no Congresso dos Estados Unidos que seja feito um pedido de desculpas oficial a Johnson, pelo presidente Barack Obama. Na década de 1910, ele foi acusado em duas oportunidades de circular com mulheres brancas com “propósitos imorais”, o que foi considerado por sua família como um caso de racismo para o prejudicar, principalmente após sua vitória em Reno.
“Acho maravilhoso que ainda se esteja brigando sobre isso”, afirma a sobrinha-bisneta, Linda E. Haywood, de 54 anos - o ex-pugilista, que morreu aos 68 anos, não teve filhos. “Já é tempo de este erro cometido contra meu tio ser corrigido.”
Um evento será feito para celebrar a vitória de Johnson, com a presença de familiares e a exibição de imagens do combate.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos se negou no ano passado a endossar o pedido de desculpas ao ex-lutador, uma vez que ele não costuma ser dado a quem já morreu. Apenas duas pessoas nesta situação tiveram sucesso, uma com Obama e uma com George W. Bush.
O combate de 1910 foi visto por muitos como uma batalha pela supremacia racial, devido às diferenças gritantes colocadas entre brancos e negros à época. O fato de Jack Johnson se envolver com mulheres brancas causava reações negativas.
“Ele simplesmente teve a audácia de estar com mulheres brancas e foi nocauteado por isso”, explica Wayne Rozen, autor do livro “America on the Ropes”, sobre o lutador. “Eles não podiam aceitar que a pessoa mais importante do esporte fosse um negro. Ele foi julgado por uma ofensa menor e isso mudou sua vida para sempre.”
Segundo o senador John McCain, que apoia o pedido, há chances de o ex-pugilista ter a causa reconhecida. “Sei que o presidente, quando se debruçar cuidadosamente sobre o tema, vai querer corrigir tamanha injustiça.”
Johnson se tornou o primeiro negro campeão dos pesados na história do boxe em 1908, quando venceu o canadense Tommy Burns, em uma luta realizada na Austrália. Com isso, passou-se a procurar brancos que pudessem tomar seu lugar, o que fez com que Jim Jeffries voltasse de aposentadoria só para isso.
“Eu sou obrigado a ao menos fazer um esforço para devolver o título dos pesados para a os brancos. Eu devo ir ao ringue para mostrar que o homem branco reina”, teria dito o desafiante.
Com este clima e diante de 20 mil espectadores, Johnson teve de enfrentar muita provocação de cunho racista. Ainda assim, mostrou sua superioridade ao vencer o compatriota por nocaute técnico, no 15º assalto.
Tamanha comoção em torno de uma luta, devido a questões sociais, aconteceu novamente apenas na década de 1930. com Joe Louis, primeiro esportista negro a ser considerado herói nacional nos Estados Unidos. Ele enfrentou o alemão Max Schmeling, num duelo que era encarado como representando a democracia norte-americana contra o nazismo de Adolf Hitler, apesar de os lutadores não terem estas posições políticas.
Três anos depois de bater Jeffries, Johnson foi julgado e condenado pela acusação. Ele acabou deixando o país para não ser preso, alegando sofrer perseguição, mas voltou em 1920, cumprindo um ano e um dia de sentença.
“Eles usaram a lei de forma equivocada para tirar este homem do país. O que me entristece é que eles roubaram dele seu legado e seu papel na história dos Estados Unidos”, defende Guy Rocha, um ex-pesquisador. “O orgulho da raça branca foi destruído naquele ringue. Foi algo muito maior que o boxe e cativou o mundo”.
No período longe dos Estados Unidos, o pugilista seguiu lutando - inclusive na América do Sul, na Argentina - e perdeu o cinturão em 1915, para Jess Willard. Depois do retorno já não conseguiu o mesmo desempenho que tinha anteriormente. O ex-pugilista morreu aos 68 anos, e um acidente de carro.
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