PÁGINA 2 - Boxe - Mitos e Histórias
Apolo observou o físico do desafiante e sorriu:
- Você quer lutar comigo?
- Oui, monsieur.
- Mas eu posso liquidar até dois de você em segundos!
Foi a vez do francês sorrir. Ele fora profissional de boxe em sua terra. Conhecia todos os segredos da esgrima com os punhos, a sutil arte das esquivas e... os chamados "pontos vitais" do homem. Nada a temer, a despeito dos poderosos músculos do ginasta. Ofereceu gentilmente um par de luvas a Apolo, calçou as suas e se colocou de guarda, sobre um ringue riscado no chão de terra.
Todo o grupo de artistas, mais uma dezena de curiosos e alguns companheiros do brasileiro rodearam os contendores, certos, quase todos eles, de que Sucupira liquidaria a questão com apenas um murro. E assim pensou também o jovem engenheiro, que logo de início avançou confiante e desferiu uma sequência de golpes fortes, mas desordenados. Perderam-se todos no ar. O francês nem contragolpeou. Limitou-se a fazer esquivas e jogo de pernas, atirando um ou outro jab de leve, mas certamente atento para evitar, com arte e conhecimento técnico, os braços longos e rijos do rival. O brasileiro não tinha a menor noção do que fosse a ate de boxear e logo deu-se conta que, apesar de sua força e elegância, a luta era desigual e até ridícula para ele. Era tarde para recuar, porém. Havia um bom público, moças linda na platéia. E seus amigos. No segundo round atacou mais ímpeto, na esperança de acertar um bom murro capaz de derrubar o adversário. Inútil. Após mais algumas esquiva, o francês aproximou-se com jogo de cintura, atirou uma sére de golpes duros no corpo e completou com um perfeito e potente direto de direita que derrubou o oponente e fraturou-lhe o nariz.
A dor, o sangue e a humilhação enfureceram o brasileiro. Ele levantou-se, visivelmente descontrolado, e avançou como uma fera sobre o rival, mas nem esbarrou no alvo que se movia como um azougue à sua frente e ainda respondia com jabs que lhe tirassem as luvas, pois queria brigar de outra maneira. O francês fez uma reverência e sorriu com simpatia e condescendência. E só então Sucupira caiu em si. Era jovem, forte e orgulhoso mas, acima de tudo, esportista e cavalheiro. Voltou a sorrir, abraçou o pequeno pugilisa e cumprimentou-o:
- Desculpe minha reação. Só agora entendi que a técnica é mais forte que a força.
Desde então, o doutor Luís Araripe Sucupira tornou-se um...
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