segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A MAIOR LUTA JAMAIS REALIZADA

Fonte: Revista ESPN
Créditos: ESPN - Revista




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Publicação do Boxing Magazine: 12 de setembro de 2011, às 13h e 20 minutos.


Paraty - Rio de Janeiro




A maior luta jamais realizada



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Será?

TODA GERAÇÃO TEM SUA LUTA. John L. Sulli­van contra Gentleman Jim Corbett. Jack John­son contra Jim Jeffries. Jack Dempsey e Gene Tunney. Louis x Schmeling, Clay x Liston, Ali x Frazier, Hagler x Hearns, De La Hoya x Trinidad e 20 outras na história. Toda geração tem sua luta, o combate que combina o melhor da épo­ca. A luta que define o período. A luta que sal­va o boxe. A Luta. Toda geração, menos esta. Você não vai ver um “Pacquiao x Mayweather”. Competições profissionais de boxe, eternas inválidas, estão mais uma vez no leito de mor­te, arruinadas por corrupção, práticas ilícitas e o MMA. Sem um peso-pesado carismático para salvá-las, não se consegue a luta necessária. A única luta que falta, aquela que todo mundo quer, é a luta que ninguém vai ver. Essa luta definitiva, uma vez anunciada, vai se erguer debaixo dos pés de fãs do boxe, vai se derramar sobre suas cabeças, estalar a cada virada de pá­gina de jornal, aparecer como cantoria em cada estação de rádio e TV, incendiar os céus como relâmpago. A Luta deixa você durante semanas na expectativa, aí ela leva você até uma sala, ou um bar, ou mesmo um estádio e finalmente cumpre sua promessa. Manny Pacquiao e Floyd Mayweather, os dois melhores lutadores que sobraram no mun­do, talvez os melhores médios-ligeiros na histó­ria, parecem ser a última esperança dos fãs do boxe. Por anos, seus empresários têm tentado colocá-los para lutar. Mas não conseguem. Nos últimos 18 meses, negociações tão sérias e se­cretas quanto as que precederam a Conferência de Yalta (em que Estados Unidos, Inglaterra e Rússia partilharam o mundo antes de vencer a Segunda Guerra) ou o Acordo de Dayton (res­ponsável por encerrar a Guerra da Bósnia). Cada solicitação é respondida com uma obstrução. Cada regra para o antidoping ou local de luta é acordado e, depois, recusado. Como uma cena saída de uma peça de Samuel Beckett, a mesma conversa acontece e é abandonada repetida­mente. Cada um culpa o outro . Isso tudo já foi dito antes. E tudo será dito de novo. A etiqueta do boxe sugere que, depois dos primeiros US$ 100 milhões, não é educado falar sobre O Dinheiro. A estimativa atual para uma luta entre Manny e Floyd chega perto dos US$ 130 milhões – US$ 65 milhões para cada. Se isso é o que os lutadores ganham, imagine o que vai para os caixas das empresas pagando pela luta. Usamos O Dinheiro como arma e nem assim con­seguimos a luta. O que significa que não tem nada a ver com O Dinheiro (exceto pelo fato que sempre tem a ver com O Dinheiro). Mas em al­gum nível subterrâneo, tem a ver também com orgulho, com medo ou com alguma questão obs­cura pessoal, da qual não se fala. Ligo para Don King, o Grande Satã e Santo Padroeiro dos promotores norte-americanos de luta, do tipo Dinheiro-em-uma-Samsonite. “O dinheiro não compra o amor”, ele diz, e descreve uma lista extensa de falhas comuns ao animal humano. “Convença um homem contra sua von­tade, ele vai continuar com a mesma opinião”, ele conclui. Aí Don King me assegura em tom tão agradável quanto o que o próprio diabo usaria que Don King poderia fazer essa luta acontecer, mas por questão de segredo de negócios Don King não poderia dizer como Don King faria isso.
“O grande empecílio é Floyd Mayweather”, afirma Dana White, diretor do UFC e o mais bem-sucedido promotor de esportes de comba­te desde Calígula. “É tão óbvio. Acho que é porque ele não quer arruinar seu recorde.” Ou­tros também dizem que o 41-0 perfeito de Mayweather é o problema. Colocando a questão de maneira educada, não é que Floyd tenha medo, mas Manny não “combina com” Floyd, e Floyd quer continuar invicto. “Deve ser Maywe­ather”, afirma Al Bernstein, da Showtime, um especialista na arte obscura do boxe e na venda do esporte. “Porque Mayweather precisa de Pa­cquiao mais do que Pacquiao precisa de Maywe­ather. O dinheiro é que não é o problema, né?” MANNY “PACMAN” PACQUIAO apresenta a cara pública sorridente de um herói. Um campeão em oito categorias do esporte. Um homem de família decente, membro participante do go­verno de seu país, um cantor de belas canções, um cara que faz o bem para seus vizinhos, fãs, amigos pelo mundo todo. O chapéu branco, o cara legal. O Rosto. Contra o cara mau, o cha­péu preto, a Sola do Pé. Em um campo cheio de homens violentos, ignorantes, inexpressivos, Floyd “Dinheiro” Mayweather Jr. se diferen­ciou no YouTube como alguém que faz monólo­gos homofóbicos, um intolerante sorridente. Invicto, um campeão em cinco categorias, sua sinceridade envaidecida pode ser a última coisa honesta no boxe. E a mais ofensiva. Cada lado acusa o outro. Dizem que Maywe­ather está com medo. Dizem que Mayweather não está com medo. Dizem que Pacquiao não vai concordar com o antidoping. Dizem que Pa­cquiao já concordou com o antidoping. Depois de quatro anos de manchetes, tudo virou baru­lho de bastidores. Bernstein acha que “no pró­ximo ano esse impasse vai se resolver”. Em 2012, Pacquiao vai fazer 34 anos, Mayweather, 35. “Essas lutas acontecem depois que as pessoas não querem mais vê-las”, diz White. Então decido falar com Bob Arum, agora com 80 anos, não porque ele é o CEO do Top Rank Boxing e representa Manny Pacquiao, mas por­que ele foi promotor de lutas desde que reservou os lugares para o funeral de Patroclus em A Ilía­da. Ele está no ramo há mais tempo do que Don King. “Nunca vi nada parecido”, afirma. E apesar de ser cedo em Las Vegas e do clima seco na ci­dade, há algo líquido em sua voz, algo que se parece com a verdade. “Não tem precedentes.”
UM FÃ DE LUTAS não quer nada além do que o que um fã de lutas quer. E um fã de lutas quer A Luta. A única experiência que a maioria de nós só vai ter pela televisão. Mas se você tiver sorte o bastante, de algum jeito você vai chegar lá. E não há nada parecido. Você estar com os ingres­sos e esperar seis semanas ou seis dias ou seis horas, terríveis e maravihosas, sabendo que você vai para A Luta. Você conhece um cara que conhece outro cara. Ou você sente aquela coisa na bilheteria, de escorregar notas novas com as pontas dos seus dedos, de puxar o canto do car­tão de crédito pelo balcão de aço inoxidável, de se debruçar para mais perto e gritar “Dois, por favor!”, alto, mostrando dois dedos para o caso de você não ter sido ouvido, e aí se virar para trás e sorrir porque sabe que as pessoas atrás de você estão sentindo o que você está sentindo. Em Las Vegas ou em Atlantic City ou no Ma­dison Square Garden, você come seu filé e faz sua aposta e fuma seu Macanudo e termina aquele último gole de cerveja com seus amigos ou suas amigas e aí você está n’A Luta. No topo do mundo. Há algo da magia antiga do cassino nesse dia, algo da antiga eletricidade, homens em ter­nos completos e mulheres cobertas de diaman­tes, cabelos cheios de laquê e os paparazzi disparando seus flashes, a caminhada lenta e tonta até o assento, os acontecimentos não vis­tos sob as luzes enquanto os mandachuvas e exibicionistas tomam o salão e o ex-campeão guia sua namorada de box em box com a mão imensa tocando suas costas. Não há nada pareci­do nos esportes. As luzes se apagam e a música aumenta, e aí está afinal. Você conseguiu. Mas essa luta, sua luta, nunca vai aconte­cer. Nunca. A menos que... como Arum diz, um dos boxeadores mude de ideia. “Aí acontece.” As luzes do ringue se acendem ofuscantes, e tudo se aquieta, e ali você está, finalmente, sorrindo no escuro enquanto o sino anuncia a única promessa do boxe. 


Créditos: Matéria da Revista ESPN

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Michel Alvarenga

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