Fonte: uol.com
Brasileiro tem de conviver com os pombos de Tyson para treinar nos EUA
Laudelino Barros é um dos melhores pugilista brasileiros da atualidade, o que fica comprovado nos rankings das quatro maiores entidades do boxe. Já veterano, ele sabe que suas chances de se tornar o quinto campeão mundial do país diminuem com o passar do tempo. Por isso, resolveu em fevereiro ir para os Estados Unidos intensificar os treinos e marcar presença no maior centro do pugilismo. Só isso já seria um grande passo, mas um detalhe a mais apareceu para motivar o brasileiro: seu nome é Mike Tyson - e em carne e osso.
'IRMÃO', PORTUGUÊS CONTA QUE TYSON CHEGOU AO FUNDO DO POÇO
'Mario é como meu irmão'. É assim que Tyson trata o português Mario Costa. Guru do boxe em Nova Jersey, ele acompanha o ex-campeão dos pesados há quase 30 anos, dos nocautes às drogas.
'Somos como família. Ele hoje está muito calmo, passou pela fase em que perdeu tudo. Chegou a um ponto onde não tinha casa, telefones, jóias... Estava sem nada', conta Costa. 'Ele tinha tudo aquilo, mas não tinha paz. Teve de passar por isso para saber que mesmo rico podia não ter nada.'
Mais conhecido como Lino, o sul-matogrossense mora em uma casa em New Jersey quando está treinando nos EUA. O local é de propriedade de Mario Costa, um português que escolheu dedicar boa parte de sua vida ao boxe e a jovens que querem praticar a nobre arte.
Onde Tyson entra nisso? Mario é um grande amigo de Tyson desde a década de 1980 e, mais do que esta boa relação, ele é o responsável por cuidar de um bem precioso de Tyson: seus pombos. As aves são uma tradição do lutador desde sua infância e ganharam importância neste ano com sua entrada em um reality show bizarro, “Taking on Tyson”, que mostrará o ex-campeão dos pesados os treinando para disputar corridas.
Quando passa por New Jersey, Tyson corre para a casa do “irmão” português, considerado um guru do boxe na cidade. Lino é deslocado do segundo andar para o primeiro para dar lugar ao ex-pugilista, que vira centro das atenções para todos os lutadores que frequentam o local.“O Mario, que me dá a estrutura, é um dos poucos caras que o Tyson confia. É amigo nem sei desde quando e já o ajudou várias vezes”, conta Laudelino, campeão latino dos cruzadores (até 90,7 kg) da Organização Mundial de Boxe (OMB). "Quando ele vem aqui é um tumulto, porque é um cara muito querido. Todo mundo quer estar com ele, tirar foto...".
“O Tyson vem direto ver os pombos. É uma pessoa bem desconfiada. Se não tem uma pessoa que confia, como o Mario, fica só olhando de longe. Mas para nós é normal. Fizemos até um churrasco quando ele veio”, acrescentou o lutador, que totaliza 32 vitórias, com 29 nocautes, e apenas duas derrotas na carreira.
ABRE ASPAS
MIKE TYSON, sobre Mario Costa
ABRE ASPAS
"Ele tinha tudo aquilo, mas não tinha paz. Teve de passar por isso para saber que mesmo rico podia não ter nada "
"Mario é como um irmão. Ele sempre me alimentou, sempre tomou conta de mim. E estarei sempre aí para ele."
MIKE TYSON, sobre Mario Costa
O Tyson vem direto ver os pombos. É uma pessoa bem desconfiada. Mas para nós é normal. Fizemos até um churrasco quando ele veio
A história de Mario Costa com o boxe data do início dos anos 80. Sempre interessado pelo esporte, ele começou a ajudar crianças da comunidade em New Jersey, sem custos, além de ter um restaurante temático, chamado Ringside. Com o tempo, conseguiu abrir uma academia pela qual passam bons lutadores e outros que ao menos tiveram uma boa chance de deixar a miséria.
“Uma academia para treinar boxe custa de US$ 75 a 80 por aqui. E Tyson um dia me disse uma coisa muito interessante. Que se tivesse que pagar 1 dólar para treinar, nunca teria sido um lutador. Que talvez tivesse virado um motorista de caminhão. Por isso resolvi ter esta academia”, afirma. “Muitas vezes mando as crianças treinarem só para elas adquirirem confiança e saírem da rua.”
Entre os conhecidos de Mário estava Cus D’Amatto, o técnico que descobriu Mike Tyson, lapidou o lutador e o ofereceu um lar, após ele ter deixado a detenção em uma das inúmeras vezes em que se meteu em confusão quando jovem.
Foi quando D’Amatto morreu que os pombos foram parar em sua casa, estabelecendo assim o vínculo permanente com Tyson, visita certa a Nova Jersey.
LUTA EM CASA PARA VOLTAR AO EXTERIOR
Lino Barros terá mais uma luta no Brasil antes de tentar alçar novas metas no exterior. No dia 28 deste mês, luta no seu estado natal, Mato Grosso do Sul, enfrentando o argentino Orlando Farias, na defesa do seu cinturão latino. Número 7 do ranking da OMB e 13 no da AMB, ele se aproxima dos líderes e da chance de lutar por título do mundo.
“Não sou mais criança, então tenho de aproveitar as oportunidades. Estou bem treinado”, diz Lino. Mario Costa também vê boas chances. “Ele está em sua melhor fase mentalmente, está confortável. E, como Tyson diz, o lutador é 90% mental.”
“Quando lutava e queria ficar longe do assédio de Manhattan, Tyson vinha para cá. Ou quando não queria que vissem seus treinos. E ninguém sabia” revela ele.
Agora, o reality show é que tem sido responsável por marcar as visitas de Tyson a Mario Costa. Segundo ele, já foram filmados episódios para a primeira temporada, que será transmitida no próximo ano, e uma segunda já está em vias de se concretizar.
Histórico com brasileiros
Histórico com brasileiros
Mario Costa não cede espaço a Laudelino Barros - sem custo algum para o brasileiro - por acaso. O português já tem uma boa relação com os brasileiros há muito tempo, tendo trabalhado com Chiquinho de Jesus, medalhista de bronze no Pan de 1979.
“Os brasileiros vieram por meio do empresário Abraham Katzenelson [que trabalhou com Éder Jofre]. Viram que eu falava português, e muitas vezes vinham, lutavam, pagavam impostos aqui nos EUA e ficavam sem dinheiro nenhum. Por isso comecei a ajudá-los”, explicou.
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Michel Alvarenga
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